Podemos até falar muito em empatia, em capacidade de ver como os outros veem, em capacidade de compreensão etc. E, até
tentamos cultivar essas virtudes, entretanto,
antes disso, exercitamos pouco a autocrítica, o sentimento da mea-culpa e o respeito pelo
ponto de vista antagônico ao nosso. É
bem comum criticarmos e, muitas vezes tentarmos transferir o peso da culpa para
quem está do outro lado sem termos vivido do lado de lá.
Alto lá! É problema seu! Resolva! Se vire! Muitas vezes nos
trinta. Comumente é assim que procedemos.
Para quem não esteve do lado de lá do balcão, por mais que tentem se colocar no
lugar do outro para ter uma noção turva de como é, estará bem distante de quem
já experimentou estar ou tenha vivido no outro espaço.
Chefes e chefiados, coordenadores e coordenados, comandante e
comandado, patrão e empregado. É um questionando ou reclamando do outro! Muitos
são os conflitos especialmente no âmbito corporativo, justamente porque quem
ocupa essas duas posições nunca soubera
ou tivera a oportunidade de estar no lugar do outro. Simples assim. Nunca sentiram na pele!
Em alguns anos de profissão, já cuidei de muita gente, já
convivi com a dor e o sofrimento do próximo, já assisti a pacientes acamados,
intubados, inconscientes etc. Literalmente já dei muitas agulhadas em pessoas e,
como aprendi, procurava exercitar a empatia. Mas, nunca tinha tomado um soro na
veia, nunca tinha deitado em um leito de hospital até que, recentemente
precisei me submeter a um procedimento cirúrgico. Pude experimentar uma
anestesia, uma retenção urinária, picadas nos membros superiores e andar de
muletas, além de outras experiências. Ricas experiências para um profissional
do cuidado humano!
Por mais que imaginemos, por exemplo, o que é ser um
diabético, um obeso, um cadeirante um presidiário ou simplesmente um idoso, nunca saberemos de fato de suas restrições. Por isso é enriquecedora a experiência
de ter estado um dia no lado oposto. Vamos imaginar um empregado que já foi
patrão pedindo aumento de salário para um patrão que tenha sido empregado. Não seria
mais fácil a negociação? Você pode dizer
que talvez não seja, mas, não tem como negar que ambos conhecem o que é estar
na pele um do outro e, isso pode
melhorar ou agravar a imagem de cada um face ao resultado esperado.
O ponto de vista é a vista a partir de um ponto. Frase do
Leonardo Boff. Possui sentido amplo, e que não nos esqueçamos dela! Conheço alguns colegas que
possuem grandes dificuldades em se colocar do outro lado do balcão, tanto coordenadores como coordenados que, além de não ter possuido a oportunidade da
experiência no campo contrário, não reconhecem suas limitações, não são empáticos
e nem querem este exercício fundamental. Tenho certeza que você também conhece
um monte destes por aí, alguns com notável preparo técnico e acadêmico, mas que
relutam em sair de seus lugares e transcender ao lugar do outro, não reconhecem
as suas limitações e muito menos as dos outros. A todo tempo defrontamos com
pessoas assim. Cabe aos mais empáticos que lê esta matéria, a tarefa de
exercitar ainda mais esta virtude e procurar trazê-los para o outro vislumbre.
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