No decurso da minha vida profissional, convivi com muitos colegas em diversas instituições; em São Paulo, Minas Gerais e na Bahia. Atualmente, o meu trabalho me permite o contato com centenas de profissionais, muitos dos quais são coordenadores, supervisores e gerentes de Enfermagem. Já ouvi e interroguei muita gente sobre os mais variados assuntos e, tenho percebido a nossa dificuldade não só de ouvir, como também em dizer um simples "não sei". A explicação para isso é que, somos seres humanos de carne e osso e, esse é um problema do homem que, segundo alguns autores filósofos, apenas um em cada cem, confessa sem dificuldade, não saber de algo, quando solicitado.
Saber que não sabe, já é saber! E, o gesto de reconhecer a ignorância é o primeiro passo para o aprendizado. Ninguém sabe de tudo e ninguém ignora tudo. Sendo assim, reconhecer a ignorância é maiúsculo, porque é uma confissão de humildade. Mesmo sabedores disso, somos inclinados a fabricar respostas afobadas e infundadas à perguntas que, para as quais, não temos plena certeza ao responder. Ao invés disso, deveríamos refletir mais sobre a sua fundamentação e solidez; fazendo análise de possíveis consequências das nossas palavras ditas.
A ignorância, naturalmente é vista com desdém. Motivo por que, não queremos parecer ignorantes e, esquecemos que todos ignoram alguma informação ou algum conhecimento, por mais simplórios que sejam. Ficamos envergonhados, quando em nossa área de atuação profissional, temos que reconhecer que não sabemos ou dominamos tal teoria ou procedimento. Mas, se bem pensarmos, não precisamos disso!
Há alguns anos atrás, na minha lua de mel profissional, me recordo de quando precisei fazer a primeira SVD - Sondagem Vesical de Demora de minha vida. Tinha visto e auxiliado alguns destes procedimentos no período de estágio curricular e não tinha nenhuma destreza para tal; mas, tinha a consciência de que precisava aprender. Para o meu azar, um colega muito experiente, com mais de vinte anos de quilometragem profissional, foi à beira do leito me auxiliar. A sua terrível presença, olhando os meus movimentos e minha vagarosidade, me deixava corado pelo nervosismo, devido ao medo de ser flagrado executando a técnica de forma errada. Eu era bem arrogante! Não era humilde o suficiente para simplesmente dizer que se tratava do meu primeiro procedimento daquela natureza e, que queria muito aprender e ter o domínio do ato. Isso seria o bastante! Talvez tudo o que bastava para me fazer mais calmo e o suficiente para ter a compreensão e ajuda do meu colega com expertise.
A arrogância é deletéria para mim mesmo, e também, produz consequências para outros. Com o tempo a nossa cosmovisão e a nossa experiência são ampliadas. Não nascemos prontos. Temos que pensar assim! Então, não precisamos ter medo de cair no júri popular dos próprios colegas, quando não sabemos o suficiente para dizer, fazer ou escolher. A dúvida é uma pergunta sincera, e esta, deve ser uma bússola para achar o norte, e que, de maneira nenhuma se torne o próprio norte. Pelo fato de ser coordenador, diretor ou seja lá o que for, não tenho que saber de tudo, ou achar resposta para tudo. Quando não sei, é mais admirável dizer de pronto: "não sei".