quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

DISCORDAR É COLABORAR

 
                É  bastante comum antagonizarmos quem pensa diferente da gente e, comumente arrogamos para nós mesmos a razão que julgamos possuí-la. Às vezes com essa postura arrogante, melindramos até mesmo a boa convivência  com as pessoas que nos cercam e, cerceamos a oportunidade de expandir a nossa visão ao desconsiderar o contraditório. Essa postura é uma baita tolice.
                Para a defesa de uma ideia ou de um ponto de vista com o propósito de gerar convencimento é necessário sobretudo, respeitarmos o oposto. Quando defendemos algo, somos inclinados a querer que todos pensem como nós,  e até nos irritamos quando alguém corajosamente ergue a mão e diz: Eu discordo! E, pior ainda, quando esse ser do contra, apresenta uma contestação que nos parece jogar por terra o que foi dito. Por que agimos assim se podemos contra argumentar?  Devemos entender que uma contra argumentação pode provocar uma solidez ainda maior de uma ideia inicial. Se estivermos seguros e embasados, por que não desejar uma manifestação contrária? Agora, se não estamos seguros, naturalmente vamos ficar chateados e até odiar o opositor.  A insegurança gera stress que gera dificuldade de racionalizar. Nos induz a falar alto e até mesmo de demonstrar intolerância.  Lata cheia não faz barulho! Quem tem conteúdo e está seguro no que diz, geralmente é sereno, é tolerante, é convincente e considera bem vinda uma ideia contraditória.
                Devemos aprender a lidar diariamente com quem pensa diferente, agindo com prudência e equilíbrio. Isso vale para  nossa vida familiar, social, religiosa e profissional. Imagine você  numa sala com 40 alunos e você é o professor. A sala é climatizada e você está com o controle do ar condicionado em suas mãos, então você pergunta: Tá quente? E todos respondem que está quente.  Essa unanimidade quer dizer que realmente está quente. Vamos imaginar que você coloque o ar em 15°c  e ai você pergunta: Está frio? E todos respondem que está frio. Isso quer dizer que de fato está frio e você não está com febre! Daí você resolve aumentar os graus do ar para 22°c  e se arrisca e pergunta: Quem acha que está frio? Então, 20 pessoas levantam a mão e, você prossegue: Quem acha que está quente?  As outras 20 pessoas levantam a mão. Esse é o ponto de equilíbrio. Aí deverá permanecer a temperatura do ambiente.  Os polos são sempre perigosos, e a virtude está no meio. Por isso é necessário que achemos o ponto de equilíbrio.
                Na nossa vida profissional, o paralelo não deixa dúvidas. O nosso esforço deverá ser pela procura do ponto de equilíbrio. Dificilmente vamos agradar a todos, ainda mais quando estamos no cargo de liderança. Se os extremos são ruins, o desafio é achar o meio.
                Lidar com seres humanos não é tarefa fácil! E, no mundo corporativo predatório, o conhecimento, habilidade e a atitude da competência, oriundos da nossa graduação é pouco quando não consideramos alguns critérios e características do comportamento humano.  Razão pela qual, conhecemos muitos gestores que fracassaram à frente de suas equipes. Na Enfermagem absolutamente não é  nada diferente. Percebemos muita fraqueza de líderes, o que faz levar o caos aos ambientes de trabalho. Estes, jamais atingirão os alvos por eles propostos e a sentença do fracasso é garantida.
                Ao longo da minha vida profissional, tenho visto muitos  coordenadores sem noção da responsabilidade e do papel que representam. Líderes com séria dificuldade de ouvir os mais fracos e refutar os mais fortes, que são intolerantes com quem acham que são intolerantes e não sabem lidar nem trabalhar com as ideias contrárias. A insolência destrói a sua vida profissional,  pelo que talvez uma dose de humildade e empatia mudasse todo o curso de sua trajetória de ruína.  Já vi colegas assumirem postos de chefia que mais pareciam macacos em loja de louça!    E, aprendi muito e aprendo com esses maus exemplos. Sou grato a eles!      
                Por onde quer que formos, encontraremos alguém que discorde de nós, e isso é bom se toda unanimidade é burra! E, é sempre bom trabalhar com quem pensa diferente! Imagine se todos pensassem da mesma forma? Se todos fossem como você? Imagine um time de futebol. Se todos fossem goleiros no seu time, quem iria armar jogada? Quem iria marcar o gol? Se uma equipe de trabalho é um time, eu como Técnico preciso agregar as ideias e habilidades de cada um extraindo o melhor para a busca do resultado proposto. Talvez você pergunte: E o que fazer com os sujeitos “ sem noção” das ideias estapafúrdias? Ainda assim, devemos dá-los o direito de expressar o que na cabeça deles talvez seja algo genial ou a melhor ideia do mundo!   E a você que lê este post, poderá concordar plenamente, concordar parcialmente ou discordar frontalmente com o que eu disse. Cabe a mim,  respeitar o seu ponto de vista. Discordar não é criar discórdia e sim colaborar.
               
               

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Eleições 2014: profissionais de Enfermagem eleitos deputados

Baixa representatividade compromete pautas de interesse da categoria, como a regulamentação da jornada em 30h semanais e o piso salarial

Sete enfermeiras e dois técnicos de Enfermagem foram eleitos deputados estaduais em 2014. A próxima legislatura terá, ainda, a presença da enfermeira Carmen Zanotto, reeleita deputada federal. “Parabenizamos os eleitos e todos os profissionais que participaram do pleito. A presença nas casas legislativas é fundamental para pautar os projetos interesse da Enfermagem”, afirma Neyson Freire, assessor parlamentar do Conselho Federal de Enfermagem – Cofen.  “Mas, para uma categoria com 2 milhões de profissionais, o número ainda é pequeno”.

Para o assessor, a baixa representatividade política compromete projetos de lei de interesse da Enfermagem, como o que regulamenta a jornada de trabalho – PL -30h e o projeto de criação do piso salarial.  “A situação é crítica”, afirma Neyson, que está fazendo um levantamento estatístico sobre as eleições 2014. “Na Câmara dos Deputados, a presença de profissionais de Enfermagem será ainda mais reduzida; de dois assentos para apenas um.”

A profissão também está presenta nas eleições para o poder executivo. No Amapá, o enfermeiro Rinaldo Martins disputa o 2º turno como candidato a vice-governador.

O Cofen apoia a regulamentação da jornada de trabalho em 30h semanais – já conquistada em alguns municípios – e o estabelecimento de um piso salarial que permita ao profissional viver dignamente. O Conselho, porém, não define essas questões. São necessárias leis que regulamentem essas questões. Por isso, a mobilização dos profissionais e entidades representativas, como sindicatos, também é fundamental.

Veja quem foram os eleitos!
Enfermagem nas Assembleias Legislativas
Fonte: Cofen

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

E agora? Votar em quem?

Falta pouco para o dia das eleições  e, tal como o tempo, as campanhas políticas também esquentam. A temporada de promessas está a todo vapor!  Num dia desses assisti  do início ao fim, ao enfadonho horário eleitoral gratuito na TV. Muito marketing, muita pirotecnia! Dava até pra acreditar em todos os candidatos.  É sério! Muito bem feita a propaganda eleitoral de todos eles,  os postulantes políticos.  Teve momento que pensei que estivesse vivendo num eldorado, num país pujante, em que além de ser grande pela própria natureza fosse mesmo grande na economia, democracia,  justiça social etc. E teve momentos em que pensei que estivesse vivendo no pior dos mundos com todas as desgraças presentes entre nós, talvez um Haiti. Vi  algumas figuras carimbadas que faltaram exibir as suas carteirinhas de corruptos, com discursos inanes, insultando a nossa inteligência;  prometendo como sem falta para faltar como sem dúvida, caso eleitos forem. É assim em terras tupiniquins! A política está desacreditada, os políticos com a imagem mais baixa do que bumbum de cobra! Tanto é verdade que a audiência no horário eleitoral vem caindo quando comparado com pleitos anteriores.

                Que bom que vivemos num país democrático não é mesmo? Daí você pergunta: mas pra quê democracia? Que aliás rima com demagogia e hipocrisia. Lamento dizer: Quem não está satisfeito que apresente outro modelo melhor do que este. Desconheço! O problema não está no modelo em si e sim em nós mesmos que participamos pouco do processo, elegemos maus candidatos e não sabemos cobrar. E os políticos? Quando eleitos nadam de braçadas é claro! Com muitas regalias, satisfeitos e acomodados. O animal satisfeito dorme! E, em época de campanha voltam com força pra renovar as promessas que muitos de nós já esqueceram. Assim, nutrem do sistema e jamais querem cortar o galho em que estão sentados. O povo que se dane! A culpa é sempre do povo, pois o sistema é democrático representativo. Tá certo que precisamos de uma reforma política pra anteontem mas, em última análise o peso da culpa recai sobre nós  que os elegemos. O antídoto pra isso? Participar, aprender a gostar de política e refletir sobre tudo isso. Digo da política na sua essência. Quem ignora a política, a política o ignora! Temos que pensar nisso.

Nós profissionais de Enfermagem que labutamos na saúde e, como trabalhadores e usuários, sentimos na pele os enormes e gritantes problemas deste setor, devemos pensar que os investimentos e a solução que desde sempre são prometidos não nos vão cair do céu como o maná nestes próximos quatro anos. Todo mundo promete compromisso com a saúde, educação e segurança. A cada quatro anos a mesma redundância! Na prática... deixa pra lá! Não quero aqui ser redundante e parecer com tais políticos.

Pergunto para os colegas profissionais de enfermagem: É melhor votar em quem conhece os meandros da saúde ou votar em jogador de futebol, artista, palhaço etc?  É certo que estes podem ser melhores do que muitos que militaram na saúde e querem ser nossos representantes mas, a probabilidade é remota. No legislativo estadual e federal temos muitos parlamentares que são economistas, advogados e médicos. Pensem aí: Quantos parlamentares  são profissionais de Enfermagem e quem de fato irá nos representar?


Em vários estados da federação temos candidatos que são profissionais de Enfermagem. Acho que já é passada a hora de pensarmos em Elegê-los. Faço aqui um apelo aos milhares de profissionais para que façam uma pesquisa e achem esse candidato em seu estado. A hora é essa. Daqui a treze dias iremos às urnas eleger 5 candidatos. Não vamos votar em qualquer um. Vamos pesquisar melhor, discutir sobre isso e decidir com convicção e clareza. Não devemos ter raiva da política,  vamos nos indignar com os políticos ruins, vamos deixar a inércia e o discurso do tanto faz como tanto fez porque todo mundo é igual. Isso já está ultrapassado!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Do outro lado do balcão

Podemos até falar muito em empatia,  em capacidade de ver como os outros veem,  em capacidade de compreensão etc. E, até tentamos cultivar essas virtudes,  entretanto, antes disso, exercitamos pouco a autocrítica,  o sentimento da mea-culpa e o respeito pelo ponto de vista antagônico ao nosso.  É bem comum criticarmos e, muitas vezes tentarmos transferir o peso da culpa para quem está do outro lado sem termos vivido do lado de lá.

Alto lá! É problema seu! Resolva! Se vire! Muitas vezes nos trinta.  Comumente é assim que procedemos. Para quem não esteve do lado de lá do balcão, por mais que tentem se colocar no lugar do outro para ter uma noção turva de como é, estará bem distante de quem já experimentou estar ou tenha vivido no outro espaço.

Chefes e chefiados, coordenadores e coordenados, comandante e comandado, patrão e empregado. É um questionando ou reclamando do outro! Muitos são os conflitos especialmente no âmbito corporativo, justamente porque quem ocupa essas duas posições nunca  soubera ou tivera a oportunidade de estar no lugar do outro.  Simples assim. Nunca sentiram na pele!

Em alguns anos de profissão, já cuidei de muita gente, já convivi com a dor e o sofrimento do próximo, já assisti a pacientes acamados, intubados, inconscientes etc. Literalmente já dei muitas agulhadas em pessoas e, como aprendi, procurava exercitar a empatia. Mas, nunca tinha tomado um soro na veia, nunca tinha deitado em um leito de hospital até que, recentemente precisei me submeter a um procedimento cirúrgico. Pude experimentar uma anestesia, uma retenção urinária, picadas nos membros superiores e andar de muletas, além de outras experiências. Ricas experiências para um profissional do cuidado humano!

Por mais que imaginemos, por exemplo, o que é ser um diabético, um obeso, um cadeirante um presidiário ou simplesmente um idoso, nunca saberemos de fato de suas restrições. Por isso é enriquecedora a experiência de ter estado um dia no lado oposto. Vamos imaginar um empregado que já foi patrão pedindo aumento de salário para um patrão que tenha sido empregado. Não seria mais fácil a negociação?  Você pode dizer que talvez não seja, mas, não tem como negar que ambos conhecem o que é estar na pele um do outro e,  isso pode melhorar ou agravar a imagem de cada um face ao resultado esperado.


O ponto de vista é a vista a partir de um ponto. Frase do Leonardo Boff. Possui sentido amplo, e que não nos esqueçamos dela! Conheço alguns colegas que possuem grandes dificuldades em se colocar do outro lado do balcão, tanto coordenadores como coordenados que, além de não ter possuido a oportunidade da experiência no campo contrário, não reconhecem suas limitações, não são empáticos e nem querem este exercício fundamental. Tenho certeza que você também conhece um monte destes por aí, alguns com notável preparo técnico e acadêmico, mas que relutam em sair de seus lugares e transcender ao lugar do outro, não reconhecem as suas limitações e muito menos as dos outros. A todo tempo defrontamos com pessoas assim. Cabe aos mais empáticos que lê esta matéria, a tarefa de exercitar ainda mais esta virtude e procurar trazê-los para o outro vislumbre.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O Dr. Miguel Nicolelis e o seu gol de placa


Em meio a um turbilhão de notícias nefastas sobre a copa no Brasil, finalmente uma que deveria ser a notícia. O acontecimento extraordinário que será exposto ao mundo no próximo dia 12 de Junho, quando será realizada a cerimônia de abertura da copa do mundo. Naquele momento o mundo verá a exibição de um aparelho idealizado por um grande gênio da ciência que desenvolve com sua equipe um belo trabalho no campo da neurociência. Trata-se do exoesqueleto idealizado por um verdadeiro craque, o nome dele: Miguel Nicolelis.


Num país que exila seus cientistas e bajula os milionários jogadores de futebol, finalmente um bom começo! Quando os holofotes do mundo inteiro estiverem sobre as estrelas, os gênios, os astros do futebol, na abertura da copa, entrará em campo alguém que trabalha nos bastidores, alguém que estudou e se debruçou sobre projetos desafiadores, que vive em laboratório e  dedica a vida à ciência,  com o benefício de ter a alegria de trazer esperança a muita gente com paralisia dos membros inferiores.

O Dr. Nicolelis é um renomado neurocientistaé médico e PhD. É professor  de a cadeira “Anne W. Deane”de Neurociência da Universidade Duke nos EUA, dos departamentos de Neurobiologia, Engenharia Biomédica e Psicologia, e é fundador do Centro de Neuroengenharia de a Universidade Duke. Ele também é o fundador e Diretor Científico do Instituto Internacional de Neurociência Edmond e Lily Safra em Natal, no Rio Grande do Norte.

Pessoas do gabarito deste cientista fazem um bem enorme à humanidade, entretanto, não são recebidos com aplausos nos aeroportos, não recebem ovação da "torcida",  não ganham salários estratosféricos, não vivem cercados de paparazzis e flashes. Não precisam e não reivindicam tudo isso! simplesmente trabalham! e com os seus talentos e esforços deixam grandes legados!

Vou torcer pelo Brasil, vou gritar gol e vibrar com as belas jogadas do nosso time de boleiros. Afinal, sou patriota! mas, a abertura da copa do mundo pela razão mencionada, terá um significado especial, o reconhecimento do trabalho de um brasileiro, um verdadeiro craque, que marca o melhor gol de placa! 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Bananas

Daqui a 45 dias, a Copa do Mundo vai começar no Brasil. Brasil é aquele país da América Latina onde os estádios demoram a ficar prontos, em que quase tudo fica mais caro do que o previsto, onde lutamos contra a corrupção há 500 anos... mas em que ninguém é branco. Ou não deveria ser. Ninguém é preto - ou não deveria ser. Ninguém é azul, amarelo, verde ou vermelho. Temos todas as cores. Ou deveríamos ter.
E hoje... todos nos chamamos Daniel Alves. Todos temos pele mulata, olhos claros e cabelo pixaim. Todos nascemos na Bahia - com sangue negro, branco e índio a correr pelas veias. E todos comemos a banana metafórica lançada no chão.
Essa banana é o Brasil viajando no tempo e no espaço. Comer o racismo e metaforicamente descomê-lo com a melhor das ironias - é esse o Brasil moleque, o Brasil bailarino - capaz de driblar num espaço de guardanapo, de sambar na cara do velho mundo, capaz de superfaturar estádios, metrôs e refinarias, de produzir mensalões e mensalinhos... mas incapaz... ou quase sempre incapaz de aceitar a intolerância.
A intolerância nos agride mais que a corrupção. No Brasil se fala português com açúcar - escreveu Eça de Queiroz. Somos dóceis, somos ternos - e preferimos ser. Nossos pecados são disfarçados - e é bom que assim seja. Desprezamos o alcagüete mais do que o criminoso. Precisamos de leis para impedir que existam elevadores sociais e de serviço - mas não admitimos a humilhação pública. Não admitimos o lançamento de banana.
Podemos ser a PM subindo o morro, podemos ser o tráfico atirando pra baixo... mas, quase sempre, somos o beijinho no ombro, a mão que afaga aqui e afana ali - mas não a que apedreja.
Vamos comer essa banana como Oswald de Andrade. Comê-la, digeri-la e transformá-la. Hoje somos todos macacos. Eu, você, o Neymar, o político, a presidente, o ministro, o empresário, o trabalhador, o senhor, a senhora, o presidiário, o ator, o ladrão, o policial, o bombeiro, o deputado de direita, o vereador de esquerda, o padeiro, o gari, o motorista, o preto, o branco, o azul, o cor-de-rosa.
Somos todos hélios de la peña - temos olhos azuis e pele negra. Somos todos marcos palmeira, mestiços de olhos castanhos e cabelo enrolado Somos todos preta gil, tais araújo, lázaro ramos. Somos todos giovanna antonelli, fernandas lima, tammy gretchen. A pele que nos habita ou a pele que habitamos não tem paradoxo.
Yes, Braguinha, nós temos banana. E hoje, o que importa é pegar essa banana no chão. E comê-la em vez de lançá-la de volta. É nesse pequeno momento em que dá pra acreditar naquela musiquinha de arquibancada - sou brasileiro... com muito orgulho... com muito amor. Porque é o humor que nos separa - é a alegria que nos permite encarar tudo-isso-que-aí-sempre-esteve.
Daqui a 45 dias, o mundo vem ao Brasil - que por causa de um monte de pretos e brancos e índios e mestiços chegou a 2014 como o país do futebol. Do futebol, do samba, da caipirinha, de praias lindíssimas e políticos nem tão belos... da corrupção, dos conchavos e doleiros e KKKKs.
E é esse nosso dilema. Com muito orgulho, com muito amor, o brasileiro segue sendo o narciso às avessas, capaz de cuspir em sua própria imagem com propriedade e de se entender com outro brasileiro em apenas uma frase:
- Brasil, né?
É - Brasil... terra onde em se plantando... tudo dá - menos intolerância. De todas as vilezas do mundo, o preconceito é aquele tipo de inimigo fácil de identificar e difícil de derrotar. O rei mais conhecido deste mundo é preto, atende por Édson e nasceu em Minas Gerais. É no altar dele que deposito meu voto e digo aos lançadores de banana:
Mandem mais.
Mandem mais banana.
Mandem que a gente mata no peito e transforma em bananaço. Numa bem-humorada e coletiva banana para todos aqueles que acreditam nessa bobagem de que cor da pele faz diferença.
Em suma - esta república federativa das bananas orgulhosamente agradece. E orgulhosamente reconhece: sim - essa terra tem mil problemas. Mas alguma coisa - alguma coisa a gente tem pra ensinar pra vocês - e não é futebol.
Muito obrigado pela lembrança.
Bem-vindos ao Brasil.
Fonte: Gustavo Poli   em  http://app.globoesporte.globo.com/futebol/yes-queremos-bananas/

quinta-feira, 27 de março de 2014

Escolas não ensinam aluno a argumentar




Se você está se preparando para o vestibular, provavelmente está ciente da importância de saber defender um ponto de vista para escrever um texto dissertativo-argumentativo, gênero pedido na prova de redação de muitos processos seletivos. Mas isso não é importante apenas para o vestibular: é essencial para permitir o exercício do seu papel de cidadão, defende a pesquisadora e pedagoga Noemi Lemes. E aí é que está o problema: segundo ela, as escolas não preparam os alunos para isso. Para um estudo que desenvolveu pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP no ano passado, Noemi acompanhou estudantes do terceiro ano do Ensino Médio - ou seja, época de prestar vestibular - em escolas públicas da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para avaliar seus livros didáticos e seu desempenho em redações dissertativo-argumentativas.

A conclusão foi que três dos quatro livros analisados não trazia nenhuma referência a qualquer teoria sobre argumentação e, em vez disso, apresentava textos jornalísticos como exemplos de textos argumentativos a serem seguidos pelos estudantes. Para Noemi, isso é preocupante porque, em vez de ensinar e estimular o aluno a argumentar e defender seu ponto de vista, o material didático incentiva apenas a reprodução de opiniões trazidas pela mídia. Com a mera repetição de modelos, o aluno não tem contato com outros pontos de vista, textos científicos e informações mais aprofundadas.

Usar textos como exemplos dá a ilusão de existir um posicionamento “correto” sobre determinado assunto, sem que ele tenha acesso a outros pontos de vista e forme sua própria opinião - o que já compromete muito a capacidade de argumentação do aluno. Assim, é fundamental ter acesso ao que Noemi chama de “arquivo” - uma série de textos sobre o tema em questão. Por exemplo, se o assunto é aborto, mais do que apenas ler um texto contra e outro a favor, o estudante deveria também ler textos de leis e artigos científicos sobre isso. Dessa forma, teria contato não apenas com opiniões diferentes, mas com diferentes sentidos em que o tema pode ser abordado.

Além disso, ela critica que a argumentação seja explorada só nos últimos anos escolares, o que significaria subestimar a capacidade dos alunos de lidar com conhecimentos mais profundos.

A origem da teoria da argumentação remonta ao filósofo grego Aristóteles e à sua obra de três volumes Retórica. “Um dos principais propósitos dessa obra é promover a participação ética e eficaz do cidadão no cotidiano da polis”, diz o estudo. Assim, de acordo com os preceitos aristotélicos, a argumentação não se resume a usar técnicas para o convencimento do outro - envolve a formação de um “cidadão crítico, ético e hábil para exercer bons julgamentos diante das questões que lhe são colocadas, dentro e fora da escola”.

Em outras palavras, Noemi defende a argumentação não apenas para que o aluno possa produzir um bom texto para o vestibular, mas para a sua formação enquanto sujeito crítico atuante no meio político e no ambiente social. “Aprender isso deve ser entendido como um direito do sujeito e é estranho que isso seja negado. Saber argumentar numa sociedade é importante para exercer a cidadania, fazer valer seus direitos e se colocar no mundo”, disse ela ao Guia do Estudante, acrescentando que entender como funcionam os mecanismos de persuasão permite não apenas produzir seus próprios discursos, mas também interpretar criticamente os dos outros, identificando técnicas e ideologias e tornando-se menos manipulável.

O que os alunos podem fazer? Noemi recomenda, tanto a eles quanto aos professores, pesquisar a teoria (o que inclui estudar a obra Retórica de Aristóteles) e ler muito - mas ler “criticamente”, procurando identificar as intenções e técnicas de persuasão usadas. Ao treinar para escrever sobre determinado tema, procure ler sobre ele em várias fontes diferentes.

Dicas para uma boa argumentação: veja alguns pontos presentes na Retórica do filósofo grego Aristóteles

Há três gêneros retóricos, dos quais derivam também três gêneros do discurso: o deliberativo (aquele que induz a fazer ou a não fazer algo, muito usado por conselheiros e indivíduos que se dirigem a assembleias públicas), o forense (que envolve a acusação ou a defesa de alguém) e o demonstrativo (que se ocupa do louvor ou da censura de algo ou alguém). Saiba qual o tipo mais adequado antes de começar seu texto.

Seja claro. Se o discurso não deixa claro o que pretende, não cumpriu sua função. Além disso, é preciso usar formato, linguagem e estilo que sejam adequados ao tema.

Os discursos podem ter quatro partes (que não precisam, necessariamente, estar dispostas em quatro parágrafos): o prólogo (na qual o autor deixa clara a finalidade do discurso, preparando os ouvintes), a exposição, a demonstração ou prova (com os argumentos do autor em favor de sua ideia) e o epílogo (a conclusão, na qual o autor amplifica o tema, relembra os ouvintes dos argumentos fundamentais e finaliza o discurso). Os mais importantes são a exposição e a prova.

Tente despertar emoções em seus leitores. Isso aumenta as chances de o leitor ficar mais receptivo às suas ideias. Só não exagere e banque o sensacionalista - equilíbrio é fundamental.

Coloque-se na posição do leitor e tente antecipar os efeitos de sentido do seu texto, bem como possíveis contra-argumentos à ideia que você defende. Então, adicione ao seu texto argumentos para contrapor possíveis opiniões contrárias.

Você pode usar recursos como a metáfora, especialmente se usar relações novas, propondo um modo diferente de olhar para o tema. Fuja de estereótipos e lugares-comuns - é o efeito “surpresa” que pode dar ainda mais força à sua argumentação.

Outros recursos possíveis são entimema e silogismo. Enquanto este traz duas premissas e uma conclusão, no entimema acontece algo semelhante, com a diferença de que uma ou mais premissas podem ser suprimidas por serem consideradas óbvias ou já conhecidas.


Nota: Na enfermagem e noutras profissões dentro e fora da saúde, são despejados milhares e milhares de profissionais tarefeiros para "atender" as exigências do mercado. A maioria absoluta destes profissionais  não foram ensinados a pensar e  já chegaram à faculdade formatados e, portanto, não foram instigados a levantar questionamentos durante a vida acadêmica. Quem dera se o verdadeiro objetivo da educação fosse o de ensinar os alunos a pensar e não a ser meros reprodutores do conhecimento alheio. [AD].