quinta-feira, 27 de março de 2014

Escolas não ensinam aluno a argumentar




Se você está se preparando para o vestibular, provavelmente está ciente da importância de saber defender um ponto de vista para escrever um texto dissertativo-argumentativo, gênero pedido na prova de redação de muitos processos seletivos. Mas isso não é importante apenas para o vestibular: é essencial para permitir o exercício do seu papel de cidadão, defende a pesquisadora e pedagoga Noemi Lemes. E aí é que está o problema: segundo ela, as escolas não preparam os alunos para isso. Para um estudo que desenvolveu pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP no ano passado, Noemi acompanhou estudantes do terceiro ano do Ensino Médio - ou seja, época de prestar vestibular - em escolas públicas da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para avaliar seus livros didáticos e seu desempenho em redações dissertativo-argumentativas.

A conclusão foi que três dos quatro livros analisados não trazia nenhuma referência a qualquer teoria sobre argumentação e, em vez disso, apresentava textos jornalísticos como exemplos de textos argumentativos a serem seguidos pelos estudantes. Para Noemi, isso é preocupante porque, em vez de ensinar e estimular o aluno a argumentar e defender seu ponto de vista, o material didático incentiva apenas a reprodução de opiniões trazidas pela mídia. Com a mera repetição de modelos, o aluno não tem contato com outros pontos de vista, textos científicos e informações mais aprofundadas.

Usar textos como exemplos dá a ilusão de existir um posicionamento “correto” sobre determinado assunto, sem que ele tenha acesso a outros pontos de vista e forme sua própria opinião - o que já compromete muito a capacidade de argumentação do aluno. Assim, é fundamental ter acesso ao que Noemi chama de “arquivo” - uma série de textos sobre o tema em questão. Por exemplo, se o assunto é aborto, mais do que apenas ler um texto contra e outro a favor, o estudante deveria também ler textos de leis e artigos científicos sobre isso. Dessa forma, teria contato não apenas com opiniões diferentes, mas com diferentes sentidos em que o tema pode ser abordado.

Além disso, ela critica que a argumentação seja explorada só nos últimos anos escolares, o que significaria subestimar a capacidade dos alunos de lidar com conhecimentos mais profundos.

A origem da teoria da argumentação remonta ao filósofo grego Aristóteles e à sua obra de três volumes Retórica. “Um dos principais propósitos dessa obra é promover a participação ética e eficaz do cidadão no cotidiano da polis”, diz o estudo. Assim, de acordo com os preceitos aristotélicos, a argumentação não se resume a usar técnicas para o convencimento do outro - envolve a formação de um “cidadão crítico, ético e hábil para exercer bons julgamentos diante das questões que lhe são colocadas, dentro e fora da escola”.

Em outras palavras, Noemi defende a argumentação não apenas para que o aluno possa produzir um bom texto para o vestibular, mas para a sua formação enquanto sujeito crítico atuante no meio político e no ambiente social. “Aprender isso deve ser entendido como um direito do sujeito e é estranho que isso seja negado. Saber argumentar numa sociedade é importante para exercer a cidadania, fazer valer seus direitos e se colocar no mundo”, disse ela ao Guia do Estudante, acrescentando que entender como funcionam os mecanismos de persuasão permite não apenas produzir seus próprios discursos, mas também interpretar criticamente os dos outros, identificando técnicas e ideologias e tornando-se menos manipulável.

O que os alunos podem fazer? Noemi recomenda, tanto a eles quanto aos professores, pesquisar a teoria (o que inclui estudar a obra Retórica de Aristóteles) e ler muito - mas ler “criticamente”, procurando identificar as intenções e técnicas de persuasão usadas. Ao treinar para escrever sobre determinado tema, procure ler sobre ele em várias fontes diferentes.

Dicas para uma boa argumentação: veja alguns pontos presentes na Retórica do filósofo grego Aristóteles

Há três gêneros retóricos, dos quais derivam também três gêneros do discurso: o deliberativo (aquele que induz a fazer ou a não fazer algo, muito usado por conselheiros e indivíduos que se dirigem a assembleias públicas), o forense (que envolve a acusação ou a defesa de alguém) e o demonstrativo (que se ocupa do louvor ou da censura de algo ou alguém). Saiba qual o tipo mais adequado antes de começar seu texto.

Seja claro. Se o discurso não deixa claro o que pretende, não cumpriu sua função. Além disso, é preciso usar formato, linguagem e estilo que sejam adequados ao tema.

Os discursos podem ter quatro partes (que não precisam, necessariamente, estar dispostas em quatro parágrafos): o prólogo (na qual o autor deixa clara a finalidade do discurso, preparando os ouvintes), a exposição, a demonstração ou prova (com os argumentos do autor em favor de sua ideia) e o epílogo (a conclusão, na qual o autor amplifica o tema, relembra os ouvintes dos argumentos fundamentais e finaliza o discurso). Os mais importantes são a exposição e a prova.

Tente despertar emoções em seus leitores. Isso aumenta as chances de o leitor ficar mais receptivo às suas ideias. Só não exagere e banque o sensacionalista - equilíbrio é fundamental.

Coloque-se na posição do leitor e tente antecipar os efeitos de sentido do seu texto, bem como possíveis contra-argumentos à ideia que você defende. Então, adicione ao seu texto argumentos para contrapor possíveis opiniões contrárias.

Você pode usar recursos como a metáfora, especialmente se usar relações novas, propondo um modo diferente de olhar para o tema. Fuja de estereótipos e lugares-comuns - é o efeito “surpresa” que pode dar ainda mais força à sua argumentação.

Outros recursos possíveis são entimema e silogismo. Enquanto este traz duas premissas e uma conclusão, no entimema acontece algo semelhante, com a diferença de que uma ou mais premissas podem ser suprimidas por serem consideradas óbvias ou já conhecidas.


Nota: Na enfermagem e noutras profissões dentro e fora da saúde, são despejados milhares e milhares de profissionais tarefeiros para "atender" as exigências do mercado. A maioria absoluta destes profissionais  não foram ensinados a pensar e  já chegaram à faculdade formatados e, portanto, não foram instigados a levantar questionamentos durante a vida acadêmica. Quem dera se o verdadeiro objetivo da educação fosse o de ensinar os alunos a pensar e não a ser meros reprodutores do conhecimento alheio. [AD].

segunda-feira, 17 de março de 2014

ATOS PÚBLICOS NO DIA 14 DE MARÇO


Nesta sexta-feira (14), profissionais de Enfermagem de todo o país “vestiram” de branco a Avenida Paulista, em São Paulo, e exigiram a aprovação do PL 2295/00- que regulamenta a jornada em 30 horas semanais para todos os auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros.
O grande ato público, chamado “Enfermagem Vem pra Rua”, reuniu milhares de profissionais, além de integrantes da sociedade civil sensíveis à causa.
O presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Osvaldo Albuquerque, enfatizou que “a aprovação do PL é de suma importância para a saúde do país, já que com isso, a qualidade dos atendimentos nas redes pública e privada melhorará significativamente.” Albuquerque também afirmou que a aprovação das 30 horas semanais sanará diversas problemáticas decorrentes de uma carga horária de trabalho excessiva. O presidente do Cofen, levantando o coro de “Enfermagem vem pra Rua”, ressaltou o papel da Enfermagem e a força da categoria.
Estiveram também presentes  no evento representantes de diversas entidades da Enfermagem e das centras sindicais- CUT, CTB e Força Sindical.
O Ato de hoje foi promovido pelas entidades que compõem o Fórum Nacional 30 horas Já: Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Federação Nacional de Enfermagem (FNE), Confederação dos Trabalhadores de Saúde (CNTS), Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (ENEEnf) e Associação Nacional de Auxiliares e Técnicos em Enfermagem ( Anaten).

Fonte: Ascom/Cofen

A presidente do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), Maria Luísa de Castro Almeida, esteve nesta sexta-feira, 14 de março, na praça Thomé de Souza, em frente a Câmara Municipal de Salvador, para ato público em defesa da jornada de 30 horas semanais para os profissionais de enfermagem. Organizado pelo Fórum Baiano de Enfermagem 30 Horas, a manifestação teve por objetivo despertar a sociedade para a necessidade da decretação da carga horária desses trabalhadores e defender a aprovação, na Câmara Federal, do PL 2295/2000, que regulamenta a medida a nível nacional.Além do Coren-BA, que esteve representado pela presidente, conselheiros e enfermeiros fiscais, a ação contou com representantes da Associação Brasileira de Enfermagem, seção Bahia (ABEn-BA), do Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde, Trabalho e Previdência da Bahia (SINDPREV-BA), do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia (Sindsaúde-BA), do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb-BA), da Associação Nacional de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem da Bahia (Anaten/BA) e profissionais de enfermagem, que juntos reivindicaram por maior segurança na assistência prestada à população e para o exercício profissional, diminuição de afastamentos por doenças ocupacionais e por novos postos de trabalho para futuros profissionais.
Fonte: www.coren-ba.com.br

domingo, 9 de março de 2014

INSATISFAÇÃO E MALEDICÊNCIA ENTRE NÓS


É dispensável a realização de uma pesquisa entre nós para mensurar o tamanho do descontentamento que assola a nossa classe profissional. Basta andar por aí e conversar com quem está na linha de frente, e então concluiremos o óbvio. Ultimamente não tenho encontrado um sequer que esteja satisfeito, quer pelas condições de trabalho oferecidas pelas instituições, quer pela remuneração ou reconhecimento profissional. Tanto no serviço público quanto no privado é patente a desmotivação e a desesperança que têm baixado em nós.

Podemos agrupar várias razões como determinantes deste fenômeno, que vão desde a falta de vontade política para tratar a saúde dos brasileiros (incluindo a nossa) como prioridade de governo neste país, à passividade dos profissionais que sucumbem acomodados dentro de um sistema vil. Não é exagerado dizer que tem muita gente padecendo. Grande parcela está submetida a contratos precários de trabalho, subempregos e em regime que podemos até nominar de neoescravagista.

Em um mundo pós-moderno, em que a ostentação e a vaidade são reinantes, onde eu preciso ostentar mais do que ter um bom emprego, um bom carro, uma boa casa etc. Não ter condições para satisfazer alguns desejos, tende a provocar em mim uma tristeza e conflito interno; porque para ser bem aceito na sociedade eu preciso mostrar. A sociedade me cobra e eu, vou na onda exibicionista! Valores invertidos, aliás, muita coisa de ponta-cabeça.  Neste tempo e neste meio estamos nós profissionais de Enfermagem.

Já encontrei muitos colegas  que tem vergonha de dizer que são Enfermeiros, Outros tímidos para dizer quanto ganha de salário, em qual instituição labora, ou que estão desempregados. Vergonha de parecer desvalorizados, ridículos! E não são poucos. Estes e muitos outros, após uma leitura apressada e equivocada das causas que de fato constituem o cerne da questão, ou que a elas estão atreladas, apontam os canhões para a categoria profissional e maldizem a Enfermagem como um todo. Já ouvi certas coisas do tipo: Enfermagem não está com nada! Estou arrependido de ter escolhido Enfermagem! Eta profissãozinha!  Ou interrogações seguidas de exclamações como: Você é Enfermeiro? Coitado de você! Essas pessoas esquecem que a Enfermagem é feita por pessoas e a culpa pode estar nelas mesmas.  E, quando maldizemos a nossa profissão, estamos maldizendo a nós mesmos. Um tiro no próprio pé! E o pior, sem ao menos fazer uma reflexão, com o fim de buscar uma solução para os problemas. Tentar apequenar uma profissão tão nobre e de forma tão superficial não é inteligente. Antes de disparar qualquer coisa, devemos mirar nas causas. Não precisamos também ficar calados e acuados. Os problemas são reais e graves. Jamais temos que fechar os olhos para as aberrações que nos assolam. Além de quem é cuidado por nós, somos os grandes prejudicados. Fechar os olhos em meio a um tiroteio para não ser atingido é insanidade. Sendo assim, precisamos diagnosticar as causas dos problemas e procurar meios para tocar suas raízes.


Muita coisa precisa ser trazida a lume e debatida, com conhecimento, senso crítico e vontade de mudança. Essas questões e outras contingentes, precisam ser tratadas com carinho por nós. É premente! Chega de ficar focado apenas na nossa tarefa diária, na técnica de tal procedimento e nas rotinas costumeiras! Ser profissional de Enfermagem verdadeiramente, é muito mais do que isso. É também pensar nos fatores condicionantes e determinantes dos  eventos, com senso crítico. A maledicência, que vai além de falar mal do colega, caminha na contramão e é condenada pelo nosso código de ética; pois, tende a causar efeito rebote, pelo que, faz agravar uma situação; neste caso, já difícil. Achar que vamos conseguir despertar nos nossos colegas o desejo da mudança nos valendo deste meio é ledo engano. Maldizer a profissão do cuidado é diminuir a nós mesmos. Talvez você pense assim: mas, muitos dos colegas precisam mesmo ser diminuídos, pois não tem nenhum preparo e muito menos, vocação ou respeito para  com esta profissão e, suas presenças contaminam o ambiente de trabalho com os maus exemplos. Mesmo assim, devemos pensar na maioria, que trabalha de forma decente. Quando falamos mal da Enfermagem, a ideia que passamos é o nivelamento de todos os profissionais para o mesmo patamar. Aí é nefasto. Vamos nivelar por cima ou por baixo?  Vamos pensar nisso!