domingo, 23 de fevereiro de 2014

NÃO SEI!

 
 
No decurso da minha vida profissional, convivi com muitos colegas em diversas instituições; em São Paulo, Minas Gerais e na Bahia. Atualmente, o meu trabalho me permite o contato com centenas de profissionais, muitos dos quais são coordenadores, supervisores e gerentes de Enfermagem. Já ouvi e interroguei muita gente sobre os mais variados assuntos e, tenho percebido a nossa dificuldade não só de ouvir, como também em dizer um simples "não sei". A explicação para isso é que, somos seres humanos de carne e osso e, esse é um problema do homem que, segundo alguns autores filósofos, apenas um em cada cem, confessa sem dificuldade, não saber de algo, quando solicitado.
 
Saber que não sabe, já é saber! E, o gesto de reconhecer a ignorância é o primeiro passo para o aprendizado. Ninguém sabe de tudo e ninguém ignora tudo. Sendo assim, reconhecer a ignorância é maiúsculo, porque é uma confissão de humildade. Mesmo sabedores disso, somos inclinados a fabricar respostas afobadas e infundadas à perguntas que, para as quais, não temos plena certeza ao responder. Ao invés disso, deveríamos refletir mais sobre a sua fundamentação e solidez; fazendo análise de possíveis consequências das nossas palavras ditas.
 
A ignorância, naturalmente é vista com desdém. Motivo por que, não queremos parecer ignorantes e, esquecemos que todos ignoram alguma informação ou algum conhecimento, por mais simplórios que sejam. Ficamos envergonhados, quando em nossa área de atuação profissional, temos que reconhecer que não sabemos ou dominamos tal teoria ou procedimento. Mas, se bem pensarmos, não precisamos disso!
 
Há alguns anos atrás, na minha lua de mel profissional, me recordo de quando precisei fazer a primeira SVD - Sondagem Vesical de Demora de minha vida. Tinha visto e auxiliado alguns destes procedimentos no período de estágio curricular e não tinha nenhuma destreza para tal; mas, tinha a consciência de que precisava aprender. Para o meu azar, um colega muito experiente, com mais de vinte anos de quilometragem profissional, foi à beira do leito me auxiliar. A sua terrível presença, olhando os meus movimentos e minha vagarosidade, me deixava corado pelo nervosismo, devido ao medo de ser flagrado executando a técnica de forma errada. Eu era bem arrogante! Não era humilde o suficiente para simplesmente dizer que se tratava do meu primeiro procedimento daquela natureza e, que queria muito aprender e ter o domínio do ato. Isso seria o bastante! Talvez tudo o que bastava para me fazer mais calmo e o suficiente para ter a compreensão e ajuda do meu colega com expertise.
 
A arrogância é deletéria para mim mesmo, e também, produz consequências para outros. Com o tempo a nossa cosmovisão e a nossa experiência são ampliadas. Não nascemos prontos. Temos que pensar assim! Então, não precisamos ter medo de cair no júri popular dos próprios colegas, quando não sabemos o suficiente para dizer, fazer ou escolher. A dúvida é uma pergunta sincera, e esta, deve ser uma bússola para achar o norte, e que, de maneira nenhuma se torne o próprio norte. Pelo fato de ser coordenador, diretor ou seja lá o que for, não tenho que saber de tudo, ou achar resposta para tudo. Quando não sei, é mais admirável dizer de pronto: "não sei".

domingo, 16 de fevereiro de 2014

FAZENDO POR AMOR

Indubitavelmente o amor é anterior e superior a qualquer boa ação. O amor é divino e devemos praticá-lo, pois não se trata de apenas um sentimento. Sem amor nada seríamos, ainda que falássemos a língua dos homens e dos anjos, conforme São Paulo, em I coríntios 13:1.
Em nosso meio, é bem comum ouvirmos que exercemos a enfermagem por e com amor, e é bom ouvir isso! Acredito que a maioria dos profissionais são vocacionados de fato e amam o que fazem. Afinal, a Enfermagem tem suas raízes no sentimento de religiosidade, que muito marcou seu espírito até hoje. Pertencemos a profissão que tem a arte de cuidar incondicionalmente, só que, muitas vezes o nosso pensamento para por aí!
Façamos uma reflexão honesta:

Acho que seria mais coerente dizermos: Exerço a Enfermagem não apenas por dinheiro, a exerço por amor e por dinheiro, sem hipocrisia. O amor é sublime e o dinheiro necessário. Ou não? Nós da Enfermagem evitamos  falar de dinheiro associando-o às nossas atividades, porque o dinheiro não é assim tão importante. Será? Vá a um supermercado e na hora de passar no caixa veja se não é importante? Faça um curso de graduação,  pós graduação e aprimoramento profissional pagos e veja se  não é importante? Faça uma viagem para participar de algum congresso a fim de enriquecimento profissional e veja se o dindim não é fundamental?

Há pouco tempo em uma conversa com um amigo e colega, representante do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia - SEEB, no extremo sul do estado, quando ele se esforçava para atualizar uma tabela de honorários da Enfermagem, fiquei convencido de que deveríamos falar disso também. Imagine uma situação hipotética (ilustrada por ele) e veja se tem identificação contigo?   Possuo um conhecido, um quase amigo, um vizinho que é um profissional bombeiro, encanador, pedreiro etc. Essa pessoa adoece, fica acamado e me chama em sua casa para fazer um curativo, para administrar algum injetável etc. Faço os procedimentos por amor é lógico, não cobro nada pelo serviço e vou embora. Amanhã, quando precisar de um reparo na minha casa e precisar do serviço deste profissional, e chama-lo em minha residência, ele vai me cobrar pelo seu trabalho. É seu ganha- pão! Ele está correto, pois vende o seu serviço em troca de dinheiro. E eu, naturalmente aceito, concorda? Acontece que, antes, quando o servia, não pensei ou não falei do valor do meu serviço porque não tenho este hábito.

Para quem não sabe, possuímos uma tabela de valores de procedimentos e deveríamos usá-la  mais. Eu, poderia perfeitamente fazer o(s) procedimento(s) no caso citado acima, dar o valor do serviço e não cobrar dele naquele momento, explicando as razões pelas quais não devo fazê-lo. E não simplesmente, dizer: nada! quando perguntado sobre o preço. Assim, estaria dizendo a ele que o meu trabalho tem também um preço e que minha profissão também possui honorários  e naquele momento estava ali por um ato de solidariedade.

Queridos colegas, fazemos parte de uma profissão regulamentada, e que se expande com novas tecnologias, em meio às constantes transformações do mundo moderno.  Precisamos a cada dia de  aperfeiçoamento, de atualização, de crescimento profissional, em prol do próprio ser humano. Tudo isso tem um dispêndio. Dá pra fazer trabalhos voluntários caritativos? Dá pra fazer e devo fazer! Poderei tirar 1 ou 2 dias na semana e me dedicar a isso. É nobre e me faz bem! Entretanto, seria difícil viver do voluntariado somente. Para pensar no outro, para fazer bem ao outro, para ofertar uma assistência de qualidade, preciso pensar em mim também. Em suma, Faço por amor!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

PROBLEMAS COMPLEXOS EXIGEM SOLUÇÕES COMPLEXAS


Ao fazer um extrato dos principais fatos que marcaram a semana, me deparo com um caso marcante, objeto de veiculação exaustiva nos telejornais brasileiros. Trata-se da médica cubana Ramona Matos Rodrigues que deserdou, abandonando o seu posto de trabalho no Pará e o recém criado programa Mais Médicos do governo federal,  indo para Brasília em busca de asilo político, onde foi acolhida pelo partido Democratas-DEM, em especial pelo parlamentar e médico Ronaldo Caiado. (Prato cheio para a oposição).
 
Nas manifestações de rua em Julho do ano passado, fruto de uma crise aguda de representação política, uma das principais queixas da população foi a saúde pública. O governo então, lançou estrategicamente o programa mais médicos, que  vinha sendo fermentado pelo Partido dos Trabalhadores - PT, e que deu muito e  está dando o que falar, em especial, entre as entidades médicas e partidos de oposição.
Se o programa que, segundo dados do governo, tem a aprovação de mais de 70% da população, é imprescindível para este momento, tenho cá minhas dúvidas, devida a superficialidade com que foi pensado.
 
É notório que a saúde nunca foi prioridade de governo neste país. O problema na saúde é muito mais profundo do que a priori se imagina. Não é algo tão simples que dá pra resolver com um toque de caixa e pronto! Seria o mesmo que tentar tratar fratura exposta com esparadrapo.
 
Muito se tem falado em médico, má distribuição  e falta destes profissionais no interior do Brasil. Mas, cadê uma política séria para poder fixa-los no interior? Cadê um plano de carreira no SUS,  o piso salarial nacional? Ademais, a saúde não é feita só por médicos. E os outros profissionais? não são igualmente importantes? 
 
Quero dizer que sou apaixonado pelo SUS. Quem o detesta ou não o aprova, sugiro que volte um pouco na história e veja como era feita a saúde antes de 1988. Entretanto, entendo que, o sistema é um campo em construção e que obviamente precisa avançar. Os governos precisam encarar os problemas  com mais seriedade e menos politicagem. Atribuir tudo à falta de médicos apenas,  fazendo com que população acredite na "panacéia" encontrada e, tentar se eximir da responsabilidade não é o caminho.  Governar apenas de olho na urna (isso vale para todos os partidos políticos) não é para nós sustentável, não é alto, não pode ser aceitável!  Precisamos exigir soluções duradouras, ainda que os problemas sejam complexos.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ÀS ESCONDIDAS



Me permita hoje, caro leitor e internauta, começar com um rápido exercício dirigido especialmente a você colega, profissional da Enfermagem. Pare um pouquinho e neste exato instante pense comigo em quantos colegas estão labutando em seus postos de trabalho. Imagine quantos postos de saúde, clínicas, prontos-atendimentos, emergências de grandes hospitais, etc. estão abarrotados de pacientes que são cuidados por colegas que diligentemente cumprem com a parte que lhes cabe. Muitos em ambientes altamente insalubres e desumanos, outros literalmente derramando seu suor em ambientes quentes e insuportáveis, no pleno verão brasileiro! Então,  de norte a sul do país tem muita gente nessa linha de frente, sentido na própria pele as deficiências da estrutura da saúde pública deste amado Brasil. Falar disso agora pode ser até dispensável pois você e qualquer profissional já passou e passa por isso,  e sabe muito bem do funcionamento deste nosso ofício porque já sentiu na própria carne. Talvez você diga: Isso é rotina do meu cotidiano, não me causa espanto,  é algo normal!  Quem precisa refletir sobre isso são os governantes, os parlamentares, os gestores da saúde e a população em geral que tem em suas mãos o poder de decidir em um país democrático de direito! Quero dizer que, piamente concordo contigo.  Agora pergunto: Estamos satisfeitos? Está bom assim? Isto está certo? É muito claro que não!  Ocorre que, agonizamos sozinhos sem o devido e merecido respeito que nos é cabido. Por quê?  Agora tento explicar:

A Enfermagem por anos e anos ficou escondida dentro dos seus redutos. Dentro dos hospitais, clínicas e outros postos de trabalho ficamos silentes. Muito evoluímos no saber técnico-científico, produzimos ciência e ganhamos notoriedade acadêmica, isto é fato! Mas, e o reconhecimento social e financeiro somados à participação nos espaços de poder? Será que avançamos em ritmo igual ou parecido? De novo, não! Antes de prosseguir, quero relembrar que somos uma das maiores forças de trabalho organizadas deste país. Dentro da saúde possuímos o maior contingente de profissionais e temos pouca visibilidade e representatividade política. No parlamento brasileiro, dos 513 deputados federais, temos 02 parlamentares Enfermeiras. Entre os 81 senadores não temos representantes (alguém da Enfermagem). Número pífio, dada a quantidade de profissionais. O que nos falta? Você pensou em união, eu sei! Tudo  bem, tenho que concordar contigo! O diagnóstico é cristalino e não deixa margem para outra hipótese. Confesso que ao longo da minha vida profissional já conversei com muitos colegas sobre este assunto e a concordância nesse ponto chega a assustar! Pois bem,  é fácil chegar  à união desejável? Teoricamente sim. Primeiro é bom dizer que para isso temos que começar exercitando o sentimento de humildade e união, e que tudo começa de dentro pra fora.  Eu tenho que mudar para que o meu ambiente de trabalho mude e, alcance o mundo a minha boa influência, e não ao inverso.  Mas essa leitura muita gente já fez e procura praticar. Ainda assim, parece que não saímos do lugar! Então é preciso nos organizar, com rumo e meta bem delineados. Precisamos querer mais, discutir mais sobre isso e avançarmos para além de um discurso puramente oco. Temos que botar em prática o que desejamos, com paciência e visão prospectiva. Necessitamos enxergar além do óbvio, nos interessar mais pelo assunto e contagiar os outros com o bom exemplo. Não há outro caminho a ser trilhado. Se quisermos ter mais visibilidade e representatividade nos espaços de poder, devemos sim, pensar nisso com humildade, porque nesse ponto ainda somos muito arrogantes. Uma profissão tão nobre não pode ficar reduzida às tarefas do labor diário. Temos massa cinzenta, somos sujeitos pensantes, políticos, idealizadores. Ou não nos damos conta disso ainda? Chega de ficar às escondidas!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tolerância Intolerável



Desde algum tempo vejo no facebook anúncios e chamadas para o "dia E", evento da Enfermagem marcado para o dia 14 de Março do corrente ano que ocorrerá em São Paulo no vão do Masp. Os organizadores almejam levar grande multidão para a rua, ou melhor, para a Avenida Paulista naquele dia, com o intuito de reivindicar dos governantes melhores condições de trabalho para a classe, inclusos a aprovação dos Projetos de Leis - PLs que tramitam no Congresso Nacional.

Toleramos há quase 14 anos a promessa das 30hs, proposta no PL 2295/2000, e há quase 5 anos, o PL 4924/09, que estabelece o piso salarial para a categoria. Aquele, pronto para ser votado, este, parado, depois de tramitar por algumas comissões. Com todo o afloramento de expectativas que estes projetos especialmente despertaram nos profissionais de Enfermagem ao longo desses anos em todos os rincões do país, são notadamente tímidos os movimentos  pela aprovação dos PLs, levando em consideração a magnitude do contingente de profissionais que beira os 1,8 milhões. 

Muitas esperanças foram alimentadas, muitos já desanimaram, dada a demora na aprovação, devido ao desinteresse do governo que nos enxerga como uma categoria de extraordinária expressão numérica, pouca representatividade política e sobremaneira acuada para mobilizar-se; portanto, fraca politicamente. Em ano eleitoral, fico aqui pensando com os meus botões, como seria extraordinário se ao invés de expectantes, por todos os estados da federação fizéssemos o mesmo que os profissionais de São Paulo! A hora é agora, já toleramos além do limite! Para o bem da Enfermagem brasileira e consequentemente para o bem da sociedade, dado o benefício que o projeto representa para todos, devemos nos interessar mais pelos projetos supramencionados e nos organizarmos melhor. Que reflitamos nisso!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Bem-vindos

Depois de 16 anos casado com Enfermagem e acúmulo de um pouco de experiência, resolvi criar este blog com o fim de instigar o pensamento crítico reflexivo nos profissionais de Enfermagem, postulantes a profissionais e simpatizantes desta profissão nobre do cuidado humano. Aqui, discutiremos e opinaremos sobre o nosso cotidiano, sobre política, educação e outros temas relacionados à categoria.
 
A despeito de incontáveis blogs e sites de cunho informativo e científico, existe um certo vazio no que tange a discussão de fundo e opinião dos fatos e eventos, em se tratando de Enfermagem no Brasil. Por esta razão, caro internauta, me valho desta mídia para expressão e provocação, como uma cunha para a nossa reflexão crítica.
 
Com tantos recursos tecnológicos que temos ao nosso dispor em todas as áreas do conhecimento, em nosso dia-a-dia, estamos mal acostumados com o "tudo pronto". A ditadura da urgência nos consome, naufragamos na internet com o pouco de tempo que nos resta. Somos mais autômatos, mecanicistas, superficiais. O senso crítico é relegado ao segundo ou terceiro plano e não substituímos a conformação por transformação desejável. O mundo pós-moderno nos trouxe mais facilidades no fazer e mais dificuldade no refletir.
 
A pessoa que vos escreve é um simples ENFERMEIRO, alguém que possui uma certa quilometragem, que já viveu e sentiu na pele muitas agruras peculiares do exercício da profissão. Não tenho todas as credenciais para toda esta tarefa para a qual me proponho, todavia, sei que contarei com a ajuda de diversos colegas. Por hora este é o nosso canal, mande sugestões e opiniões. Logo estarei criando também no facebook um perfil com o mesmo slogan. REPENSANDO A ENFERMAGEM.  SEJAM BEM-VINDOS!

                                                                                           Aélio Duque da Silva