quinta-feira, 3 de julho de 2014

Do outro lado do balcão

Podemos até falar muito em empatia,  em capacidade de ver como os outros veem,  em capacidade de compreensão etc. E, até tentamos cultivar essas virtudes,  entretanto, antes disso, exercitamos pouco a autocrítica,  o sentimento da mea-culpa e o respeito pelo ponto de vista antagônico ao nosso.  É bem comum criticarmos e, muitas vezes tentarmos transferir o peso da culpa para quem está do outro lado sem termos vivido do lado de lá.

Alto lá! É problema seu! Resolva! Se vire! Muitas vezes nos trinta.  Comumente é assim que procedemos. Para quem não esteve do lado de lá do balcão, por mais que tentem se colocar no lugar do outro para ter uma noção turva de como é, estará bem distante de quem já experimentou estar ou tenha vivido no outro espaço.

Chefes e chefiados, coordenadores e coordenados, comandante e comandado, patrão e empregado. É um questionando ou reclamando do outro! Muitos são os conflitos especialmente no âmbito corporativo, justamente porque quem ocupa essas duas posições nunca  soubera ou tivera a oportunidade de estar no lugar do outro.  Simples assim. Nunca sentiram na pele!

Em alguns anos de profissão, já cuidei de muita gente, já convivi com a dor e o sofrimento do próximo, já assisti a pacientes acamados, intubados, inconscientes etc. Literalmente já dei muitas agulhadas em pessoas e, como aprendi, procurava exercitar a empatia. Mas, nunca tinha tomado um soro na veia, nunca tinha deitado em um leito de hospital até que, recentemente precisei me submeter a um procedimento cirúrgico. Pude experimentar uma anestesia, uma retenção urinária, picadas nos membros superiores e andar de muletas, além de outras experiências. Ricas experiências para um profissional do cuidado humano!

Por mais que imaginemos, por exemplo, o que é ser um diabético, um obeso, um cadeirante um presidiário ou simplesmente um idoso, nunca saberemos de fato de suas restrições. Por isso é enriquecedora a experiência de ter estado um dia no lado oposto. Vamos imaginar um empregado que já foi patrão pedindo aumento de salário para um patrão que tenha sido empregado. Não seria mais fácil a negociação?  Você pode dizer que talvez não seja, mas, não tem como negar que ambos conhecem o que é estar na pele um do outro e,  isso pode melhorar ou agravar a imagem de cada um face ao resultado esperado.


O ponto de vista é a vista a partir de um ponto. Frase do Leonardo Boff. Possui sentido amplo, e que não nos esqueçamos dela! Conheço alguns colegas que possuem grandes dificuldades em se colocar do outro lado do balcão, tanto coordenadores como coordenados que, além de não ter possuido a oportunidade da experiência no campo contrário, não reconhecem suas limitações, não são empáticos e nem querem este exercício fundamental. Tenho certeza que você também conhece um monte destes por aí, alguns com notável preparo técnico e acadêmico, mas que relutam em sair de seus lugares e transcender ao lugar do outro, não reconhecem as suas limitações e muito menos as dos outros. A todo tempo defrontamos com pessoas assim. Cabe aos mais empáticos que lê esta matéria, a tarefa de exercitar ainda mais esta virtude e procurar trazê-los para o outro vislumbre.

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