domingo, 9 de março de 2014

INSATISFAÇÃO E MALEDICÊNCIA ENTRE NÓS


É dispensável a realização de uma pesquisa entre nós para mensurar o tamanho do descontentamento que assola a nossa classe profissional. Basta andar por aí e conversar com quem está na linha de frente, e então concluiremos o óbvio. Ultimamente não tenho encontrado um sequer que esteja satisfeito, quer pelas condições de trabalho oferecidas pelas instituições, quer pela remuneração ou reconhecimento profissional. Tanto no serviço público quanto no privado é patente a desmotivação e a desesperança que têm baixado em nós.

Podemos agrupar várias razões como determinantes deste fenômeno, que vão desde a falta de vontade política para tratar a saúde dos brasileiros (incluindo a nossa) como prioridade de governo neste país, à passividade dos profissionais que sucumbem acomodados dentro de um sistema vil. Não é exagerado dizer que tem muita gente padecendo. Grande parcela está submetida a contratos precários de trabalho, subempregos e em regime que podemos até nominar de neoescravagista.

Em um mundo pós-moderno, em que a ostentação e a vaidade são reinantes, onde eu preciso ostentar mais do que ter um bom emprego, um bom carro, uma boa casa etc. Não ter condições para satisfazer alguns desejos, tende a provocar em mim uma tristeza e conflito interno; porque para ser bem aceito na sociedade eu preciso mostrar. A sociedade me cobra e eu, vou na onda exibicionista! Valores invertidos, aliás, muita coisa de ponta-cabeça.  Neste tempo e neste meio estamos nós profissionais de Enfermagem.

Já encontrei muitos colegas  que tem vergonha de dizer que são Enfermeiros, Outros tímidos para dizer quanto ganha de salário, em qual instituição labora, ou que estão desempregados. Vergonha de parecer desvalorizados, ridículos! E não são poucos. Estes e muitos outros, após uma leitura apressada e equivocada das causas que de fato constituem o cerne da questão, ou que a elas estão atreladas, apontam os canhões para a categoria profissional e maldizem a Enfermagem como um todo. Já ouvi certas coisas do tipo: Enfermagem não está com nada! Estou arrependido de ter escolhido Enfermagem! Eta profissãozinha!  Ou interrogações seguidas de exclamações como: Você é Enfermeiro? Coitado de você! Essas pessoas esquecem que a Enfermagem é feita por pessoas e a culpa pode estar nelas mesmas.  E, quando maldizemos a nossa profissão, estamos maldizendo a nós mesmos. Um tiro no próprio pé! E o pior, sem ao menos fazer uma reflexão, com o fim de buscar uma solução para os problemas. Tentar apequenar uma profissão tão nobre e de forma tão superficial não é inteligente. Antes de disparar qualquer coisa, devemos mirar nas causas. Não precisamos também ficar calados e acuados. Os problemas são reais e graves. Jamais temos que fechar os olhos para as aberrações que nos assolam. Além de quem é cuidado por nós, somos os grandes prejudicados. Fechar os olhos em meio a um tiroteio para não ser atingido é insanidade. Sendo assim, precisamos diagnosticar as causas dos problemas e procurar meios para tocar suas raízes.


Muita coisa precisa ser trazida a lume e debatida, com conhecimento, senso crítico e vontade de mudança. Essas questões e outras contingentes, precisam ser tratadas com carinho por nós. É premente! Chega de ficar focado apenas na nossa tarefa diária, na técnica de tal procedimento e nas rotinas costumeiras! Ser profissional de Enfermagem verdadeiramente, é muito mais do que isso. É também pensar nos fatores condicionantes e determinantes dos  eventos, com senso crítico. A maledicência, que vai além de falar mal do colega, caminha na contramão e é condenada pelo nosso código de ética; pois, tende a causar efeito rebote, pelo que, faz agravar uma situação; neste caso, já difícil. Achar que vamos conseguir despertar nos nossos colegas o desejo da mudança nos valendo deste meio é ledo engano. Maldizer a profissão do cuidado é diminuir a nós mesmos. Talvez você pense assim: mas, muitos dos colegas precisam mesmo ser diminuídos, pois não tem nenhum preparo e muito menos, vocação ou respeito para  com esta profissão e, suas presenças contaminam o ambiente de trabalho com os maus exemplos. Mesmo assim, devemos pensar na maioria, que trabalha de forma decente. Quando falamos mal da Enfermagem, a ideia que passamos é o nivelamento de todos os profissionais para o mesmo patamar. Aí é nefasto. Vamos nivelar por cima ou por baixo?  Vamos pensar nisso!

2 comentários:

  1. O que dizer? Ora a verdade é dita e muitos se calam mesmo! Bem...
    continuarei a lutar pela enfermagem do conhecimento, sem submissão, com fé e vocação.

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  2. Também concordo quando cita o comodismo, a falta de atitude e iniciativa, por parte de nós profissionais mesmo. Mas também creio numa perspectiva de melhora e que a educação deixe de ser parte do sistema capitalista que rende lucro, onde se formem mais profissionais capacitados. A quantidade de profissionais em excesso e a desvalorização da classe decorre muito da banalização dada neste século a educação. também continuarei a lutar pela Enfermagem como profissão digna de muitoo reconhecimento, seja profissional, seja financeiro. SEM MAIS......

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